Em San Francisco, tragédia semelhante a da boate de Santa Maria-RS.
Por eng. arq. Vicente Bicudo
Na
década de 1970 a
Companhia Teperman de Estofamentos exportou para o Governo Norte-Americano
11.000 bancos para os carros de passageiros do BART-Bay Area Rapid
Transit-Metrô da Baía de San Francisco. Ao vencer essa concorrência de projeto
e execução de produto, recebi de Ronald Reagan, então governador da Califórnia,
uma medalha do BART. Reagan criou a primeira Secretaria de Transporte de Massa
da História.
Projetei
os referidos bancos com patente internacional minha da estrutura cantilever
(presos na parede, em balanço sem pés) feita pela CTE Teperman através do escritório
de marcas e patentes Pinheiro Neto. Os bancos obedeciam a uma bíblia de
especificações elaborada pelo BART, pertencente ao Governo da Califórnia sob
orientação de professores da Universidade de Berkley, onde foram testados e
aprovados.
Em
1972, a
estrutura que idealizei para os mesmos foi no Brasil a primeira vez feito um
cálculo estrutural com elementos finitos, o que consegui com o engenheiro da
Figueiredo Ferraz nos computadores da IBM, já na Rua Tutóia. Daí, este
engenheiro passou a trabalhar para a IBM e foram aceitos seus cálculos pelo
BART. É um marco na história da engenharia nacional que agradeci ao professor
José Carlos Figueiredo Ferraz e a arquiteta Edite de Oliveira.
A
especificação exigia almofadas, de assento e encosto, em espuma de poliuretano,
se assim eu não o fizesse, não seriam aceitos e se aceitos, não seriam pagos.
Por isso, assim os produzi.
Meses
depois, houve um incêndio em uns carros de passageiros dentro do túnel. Os trens
pararam, foi enviada uma Brigada de Incêndio para socorrer e não tendo
retornado, foi enviada uma segunda Brigada. Os mortos por
intoxicação e o trauma do Comandante que determinou a ida da segunda Brigada
foram contabilizados pelas manchetes dos jornais a quem lá não estava para se
defender, nós - eu, como responsável
técnico e a CTE Teperman, como contratada.
O
país inteiro se comoveu muito semelhante ao que aconteceu aqui no Brasil com Santa
Maria, que entre as vítimas estava Bruna Occai, lá na UFSM fazendo mestrado em
Bioquímica Toxicológica, era sobrinha do deputado federal Pedro Uczai, SC.
No
BART, a culpada
era também a espuma de poliuretano, então tivemos que trocar de
material com as mesmas propriedades de resiliência. Dentre todas as
alternativas, desenvolvemos no nosso laboratório em São Paulo e com o engenheiro
Pedro Cervera atuando nos laboratórios da DuPont em Illinois, obtivemos com
sucesso a espuma de neoprene (espuma de látex de policloroprene) e assim
ganhamos para trocar todas as espumas já entregues e produzimos também para
todos os posteriores metrôs que fornecemos, vencendo todas as concorrências
durante 27 anos: WMATA, metrô de Washington DC e SCRTD, metrô de Los Angeles.
Existem
as especificações com retardador de chama (flame retardant), auto-extinguível
(self extinguish) e não inflamável.
A
espuma de poliuretano na combustão emana o gás cianídrico, letal, (usado com
sucesso nas câmaras de gás pelos nazistas e prescrito pela Convenção de
Genebra), mesmo com o flame retardant não resolve.
A espuma de neoprene - espuma de látex de policloroprene - (self extinguish e não propaga chama) na combustão emana o gás clorídrico, não letal. Por isso, não é prescrito pela Convenção de Genebra e as polícias usam largamente nas bombas de gás lacrimogênio, chora mas não mata.
Para
o Brasil exportar carros com bancos nos Mercedes Benz e Volkswagen para a Alemanha,
eles não podem ser estofados com espumas de poliuretano, desenvolvi pela CTE
Teperman a fibra de coco vulcanizada e hoje, lá na Alemanha, onde usavam crina
de cavalo e de porco vulcanizada, usa-se fibra de coco da Malásia vulcanizada
pelo processo Teperman.
A
fabricação da espuma de poliuretano se dá pela reação com expansão de dois
líquidos, um é o isocianato de metila, incolor, transparente, inodoro e na
evaporação imperceptível a olho nu. Em Bhopal, na Índia, acidentalmente vazou
das instalações da Union Carbide este produto e matou muita gente em grande
tragédia no mundo comentado e ele é cancerígeno na fabricação da espuma.
Após
os incêndios do Andraus e Joelma na Gestão do Prefeito Colassuono em 1974, foi
criada a Lei e o Órgão de controle de ambientes com mais de 100 pessoas e de
edifícios de uso público, o CONTRU inicialmente dirigido pelo arquiteto Carlos
Alberto Venturelli, na Secretaria Municipal de Habitação de São Paulo. Como
diretor e membro do Conselho Superior do Instituto de Arquitetos de São Paulo, acompanhei
na época, participando inclusive de debates na TV Bandeirantes. Tentei que
fosse proibido em lugar de reunião de mais de 100 pessoas, hospitais e hotéis o
uso de espuma de poliuretano. Minha sugestão foi achada exagerada. Este é o
momento de reavaliarmos para podermos evitar mortes por intoxicação de centenas
de vidas, que como essas já poderiam ter sido evitadas.
Nos
Estados Unidos, após o incêndio do BART, ficou proibido o uso de espuma de poliuretano
em transporte público: ônibus urbanos, rodoviários, trens e metrôs. Esta é uma
barreira dos ônibus brasileiros não entrarem nos Estados Unidos.
Contratado
para especificação e projeto pelo GEIPOT do Ministério de Transportes, consegui
aprovação da proibição nos ônibus Padron e Tróleibus do uso do poliuretano que
desprenda na combustão fumaça tóxica letal, mas o empresariado conseguiu
imobilizar a especificação, tornando possível que cada um deles reproduza as
mortes em Santa Maria e tendo a facilidade agora, de quase 100 ônibus incendiados em Santa
Catarina.
Produzi
e exportei o fiber glass ignífogo com maçarico ele avermelha, mas nem fura, nem
dá chama resistindo ao "Teste do Painel Radiante", nos diversos
testes do Governo Americano e aqui no IPT quando lá era presidido pelo Prof.
Dr. Walfrido de Carlo. Fui procurado nos Estados Unidos para fabricar veículos
blindados, pois não atrairiam bombas magnéticas, nem seriam detectados por
radar, além de não pegar fogo, mas pela consciência me recusei.
Os ônibus e
trens que aqui o vandalismo incendeia, não teriam esta perda total que
frequentemente acontece se usassem um pouco da nossa muita e larga experiência
que precisa sair do país para ser aceita e exigida.
Sabe quanto custa um carro de passageiro do metrô?
E quanto vale a vida humana?
Está provado que na combustão da espuma de poliuretano
emana acido cianídrico proibido pela Convenção de Genebra.
Como pode-se verificar na fabricação, ela emana gás
cancerígeno.
É criminosa a desobediência às especificações GEIPOT
dos ônibus Padron e Troleibus.
O silencio de nossos legisladores é Crime por Omissão.