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quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

DEPOIMENTO PESSOAL SOBRE NIEMEYER

PARABÉNS Doutor Oscar, CAU, IAB, Gilson Paranhos e os arquitetos do Brasil 


15 de dezembro passa a ser nossa data nacional comemorando os nascimentos do Mestre Niemeyer e do CAU.

DEPOIMENTO PESSOAL SOBRE NIEMEYER 

• Fiz DUAS PALESTRAS sobre Niemeyer: na Faculdade de Arquitetura de Taubaté e também numa Comunidade universitária ligada aos dominicanos em São Paulo. Os títulos:

 ---A Percepção Humana e a apropriação pelo Povo, da imagem arquitetônica. 

---Niemeyer o Gênio na Expressão Estrutural. 

 Na década de 1970 na FAU-USP aconteceu, o único até hoje, concurso internacional para vaga de docente dela. Foi para Coordenador das seqüências de Desenho Industrial e Comunicação Visual, concorrendo Gui Bonsiepe, diretor da Bauhaus em Ulm, Alemanha e Silvio Grif, designer da IBM, Argentina. O qual venci, por unanimidade dos votos, os concorrentes competentes e prestigiados internacionalmente. 
Na próxima ida ao Rio de Janeiro na presença do colega Francisco Fuzzetti de Viveiros Filho, o Maranhão dos Festivais da Record e que trabalhava no escritório da av. Atlântica, CONVIDEI NIEMEYER A DAR UMA PALESTRA NA MINHA AULA, ao que ele respondeu: 

"--Bicudo, diga quando será sua primeira aula, eu quero dá-la com você." 

Respondi que poderia matar-me do coração. 

O então diretor da FAU-USP, Lucio Grinover, postergou minha contratação ate vencer o prazo. Como eu trabalhava nos metros de San Francisco, Washington e outros, não tive condição de ficar em cima, Assim perdi esta grande emoção. 

• Em 1969 Niemeyer estava no exílio, por isso o arq. Carlos Lemos concluía o Edifício Copan, quando fui escolhido para fazer o Cine Teatro Copan. 
Consegui umas plantas escala 1:200, por onde obedeci o mestre com a então inovadora entrada por trás do palco. A estrutura metálica da cobertura veio de navio do Rio Grande do Sul. 

Fui contratado pela Fama Filmes, que vendeu para a Hawai, a qual botou um decorador húngaro que pintou paredes de vermelho com ornatos em gesso, pelo que discordei do proprietário Lopes. 

Para substituir o Teatro Municipal em reforma, foi feita pela Prefeitura da Erundina, que, pesquisaram qual a Sala com melhor audibilidade e visibilidade entre todas da cidade. Foi escolhido o COPAN que substituiu o Municipal na ocasião. Pela eficiência demonstrada em vários espetáculos, a Prefeitura se preparou para desapropriá-lo, destinando-o a Concertos Musicais.  Quando então falei com Niemeyer fazer um projeto de ampla adequação. O que ele combinou para ver quando viesse a São Paulo, indo também ao dentista meu e do Fabio Penteado, o Dr. Sergio M Giorgi. Tava tudo certo. 

Foi então que com uma mala de dólares o bispo Rodrigues em nome do Edir Macedo entrou na sala do Lopes, dono da Cinematográfica Havaí. A MALA FICOU, O TEATRO COPAN VIROU IGREJA, E SÃO PAULO PERDEU. 

• Aparecida do Norte tinha um prefeito que vinha e voltava de moto, para conversar comigo onde eu estivesse. Na entrada da cidade, desde a via Dutra, fez uma alameda de arvores Pau Brasil, onde reservou área para um monumento a Juscelino, e coerentemente levei o convite para Niemeyer projetá-lo. A resposta do sábio mestre: 

---"Diga a ele que agradeço a lembrança. Fizemos um MONUMENTO A JUSCELINO NUM MEMORIAL EM BRASÍLIA, É O SUFICIENTE, e seria dispersivo e honeroso cada cidade fazê-lo. Que no lugar faça uma creche ou escola com o nome dele, JK. Sei que Juscelino se sentiria mais homenageado." 
Esta orientação do mestre serve para todo o Brasil.

• Também este prefeito me entregou um convite para reformar o Clube dos 500 na via Dutra. Depois de jantar com o seu idealizador, Orozimbo Roxo Loureiro, propus ao Niemeyer que o fizesse. Ao que respondeu: 

---"Alteraram tanto sem me consultar, com os serviços que tenho agora, não dá tempo para atender isso. Agora estou preocupado em atender os prazos da Associação Cultural Brasil-Portugal em Cascais. Faça esta reforma você, lembrando da sua revolta ao trabalho do húngaro no Teatro Copan." 


• Nisto chega à maquete pronta do tal projeto em Portugal. Ele pede para me trazerem água de coco, lembrando de meus hábitos, pede tesoura e cartolina, e manda todos saírem, permitindo que eu o observasse em silencio. EM POUCO MAIS DE MEIA HORA ELE DESTRUIU PARCIALMENTE A MAQUETE criando curvas em escadas e passagens. Ficou muito melhor. 

• Na Bienal de Arquitetura em que Niemeyer apresentou com maquete um grande auditório localizado entre o prédio da Bienal e a avenida Quarto Centenário, estava hospedado em minha casa o arq. Mario Sampaio, então diretor do Grêmio da Fac. de Arquitetura de Curitiba. Fomos ver o projeto com Rafael Greca, então prefeito de Curitiba, que apresentei-o a Niemeyer. No inicio Greca convidou-o a ter em Curitiba um projeto seu, o que honraria a cidade.

 O mestre respondeu: 

 "--Já tenho no centro um inacabado e acredito abandonado." 

Greca marcou com ele examinar o tal prédio e assim nasceu o MUSEU DO OLHO. 

• Na inauguração de Brasília teve o Congresso dos Críticos de Arte e Arquitetura, quando vieram vários notáveis. Na FAU-USP DEBATERAM SOBRE BRASÍLIA BRUNO ZEVI E RICHARD NEUTRA. Zevi defendia a praça fechada "chiuza", como a renascentista e as da Europa Central e Neutra defendia Brasília aberta como a democracia e a imensidão de nossos espaços. Isto com a presença do Kneese de Mello e dos que os ciceroneavam pela cidade, Flavio Mota e Artigas. 

No auge da discussão sumiu o cachimbo do italiano visto com o colega designer e nadador. 

Eu tinha o caderno especial sobre o Congresso dos Críticos editado pelo Jornal do Brasil, Bruno Zevi autografou fazendo um X sobre a foto de Brasília, dizendo eu reprovo. Neutra aprovou assinando no canto oposto. Anos depois Niemeyer autografou. Falei com Lucio Costa, mas nunca coincidiu de ir ao Ministério da Educação, onde ele trabalhava, e eu estar com a página para ele autografar. Quero fazer um pôster com preservação do papel. Mas não me convenci para onde mandá-lo. 


• O PARQUE IBIRAPUERA ainda é o melhor lugar de São Paulo apos meio século de Niemeyer e Burle Marx. Adotado pelo povo, com uso intenso por todas as classes sociais. É a praia do paulista. Projetado quando relativamente a cidade era vazia de automóveis, sem poluição e os congestionamentos diários de mais de 150 quilômetros. 

O  excelente arq. Ubirajara Giglioli em nome do IAB-SP procurou a Congregação da FAU-USP para pronunciar apoio a demover o culturalmente vergonhoso impedimento de Niemeyer projetar a entrada principal do Parque, adequando a para a atualidade. O Impedimento foi feito pelos colegas pagos pelo povo a zelar pelo Patrimônio Artístico e Cultural. A alegação era a inflexibilidade do tombamento do Parque, impedindo o criador a cuidar da criatura. Como membro da Congregação da FAU há 9 anos representando os ex alunos gratuitamente,não me foi sequer dada a palavra. Retirei-me por não ver condições de defender qualquer idéia, contradizendo ser uma entidade destinada a educação. 

Lamentavelmente aqui também São Paulo perdeu o aprimoramento de uma notável obra de Niemeyer pelas mãos de arquitetos pagos pelo povo. 

Livro autografado por Oscar Niemeyer. Acervo Pessoal.
Livro: PAPADAKI, Stamo. Oscar Niemeyer. New York: George Brazilier, Inc., 1960. Coleção "The Masters Of World Architecture Series".