Texto encomendado, em 1972, pela Reitora da Universidade Mackenzie, Dra. Esther de Figueiredo Ferraz, distribuído aos vestibulandos. E em 1973, como Secretária da Educação do Governo do Estado de São Paulo, Dra. Esther de Figueiredo Ferraz, distribuiu na rede escolar de segundo grau 275 mil cópias.
Desenho Industrial e Comunicação Visual
Prof° Vicente Bicudo
A Revolução
Tecnológica expandiu os processos de produção e os meios de comunicação, usando
estes para dar vazão ao consumo da superprodução e alterando a estrutura
social.
Assim o
desenvolvimento dos meios de comunicação como a imprensa, o rádio e a
televisão, resultaram na perda de significado das relações individuais, sendo
gradativamente substituídas pela comunicação de massas.
A sociedade
contemporânea, relacionada estruturalmente por meios coletivos de comunicação
visual, auditivos ou audiovisuais, é por estes influenciada e às vezes levada a
caminhos que não atendem às suas necessidades. A propaganda invade nossas
casas, leituras, objetos e até nos motivam necessidades usando nosso
subconsciente. As preferências estéticas se universalizam. As informações que
temos são fornecidas coletivamente. Os processos de ensino, antes
predominantemente de assimilação auditiva, são já predominantemente através da
comunicação visual e, progressivamente, usando as conquistas tecnológicas como
o ensino programado.
A produção
não visa mais atender encomendas feitas pelo próprio consumidor. A
superprodução atende a massa social, tendo que oferecer uma resposta a suas
necessidades reais ou impostas pela propaganda. A produção em série exige um
produto analisado, criado e desenvolvido para assim ser fabricado, adequados aos
meios de produção, com garantia de sua aceitação como forma, uso e preço antes
de qualquer importante emprego de capital.
O
desenvolvimento dos produtos industriais exige um profundo conhecimento da
psicologia do consumidor, sua preferência estética, funcional, relações
antropométricas, econômicas e sociais.
O sucesso de
um produto não é acidental. Resulta de um processo de desenvolvimento de
projeto para responder a exata demanda dos consumidores. Estes, progressivamente
com maiores meios de comunicação, são informados de que é conceituado
internacionalmente; estão tornado-se exigentes quanto ao aspecto de que lhes é
oferecido e às vezes influenciado até pela "imagem" que possuem do
fabricante.
Um produto
industrializado é fruto do trabalho em equipe de desenhistas industriais e
engenheiros, e, é divulgado pelos comunicadores visuais.
A indústria
brasileira, na fase inicial, não solicitou o desenhista industrial, visto que o
produzido era vendido. Não havia sequer o produto, não havendo "porque
gastar mais no projeto; isto só vai encarecer".
Objetivava-se
copiar o similar importado.
Com o
surgimento da competição industrial, a superprodução e a guerra da propaganda
pelos crescentes meios de comunicação, algumas indústrias despreparadas entraram em crise.
As indústrias
de produtos consumidos por mulheres, mais suscetíveis a televisão e revistas,
solicitaram primeiramente os desenhistas industriais. Assim foram os fabricantes
de produtos de beleza e eletro-domésticos. Paralelamente houve um surto de
empresas de propaganda, que eram solicitadas a serviços de comunicação visual como
etiquetas, rótulos, cartazes, folhetos, anúncios, logotipos e redesenhar a
marca da indústria. Depois os anunciantes forçaram a mudança dos próprios
veículos, principalmente as revistas, a aprimorarem sua arte gráfica.
Mais
recentemente as indústrias de móveis, rádios, vitrolas, televisores,
vasilhames, brindes, geladeiras, fogões, artefatos de plástico e brinquedos
entraram em uma pura competição, consciente, de desenho industrial. Após a
elaboração dos produtos atingiram agora a fase das embalagens; a qual junta-se
um grupo maior de indústrias que têm seus produtos vendidos pelas crescentes
cadeias de supermercados, onde embalagem substitui o balconista. Estes são
atualmente os campos em que o desenhista industrial tem atuado no Brasil.
A maioria das
indústrias ainda não desenvolve produtos, copiando ou redesenhando timidamente,
numa etapa primária da industrialização, transição da produção sob encomenda
para a produção em série com custos mais baixos por unidade. Não podendo
pretender conquistar o mercado nem ampliá-lo, muito menos pensar em exportar.
A indústria
da construção civil toma um processo de industrialização, com desenhistas
industriais desenvolvendo telhas, forros, paredes, divisórias, caixilharias,
armários embutidos, iluminárias, maçanetas e já temos firmas especializadas em
setores completos como escritórios, cozinhas e banheiros.
Na maior
parte das indústrias ainda persiste o equivoco entre o desenhista industrial e
o engenheiro de produto, como antigamente aqui houve entre arquiteto e
engenheiro civil. Pensa-se no desenhista industrial como o arquiteto de fachada
ao qual dava-se um prédio todo projetado pedindo-lhe para mudar a fachada para
uma mais bonita, como se isto bastasse para torná-lo um projeto arquitetônico
perfeito. O desenho industrial é um processo que incorpora a técnica.
Ele é o
início e o fim do desenvolvimento, solicitando diferentes técnicos. E o final
não é a SOMA dos trabalhos, mas o PRODUTO dos confrontos e da cooperação
daqueles que nele intervieram.