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quinta-feira, 5 de julho de 2012

ANOS DOURADOS

Texto: V. Bicudo

O objetivo deste escrito é o despertar de um debate, sem opiniões prejulgadas, sem espaço para nomear todos os personagens, como nossa homenagem àqueles que construíram uma época: OS ANOS DOURADOS.

Queda de Jango
Arquiteto Joaquim Guedes construiu em duas dimensões internacionais: uma política e outra cultural. Na política, foi em toda a história do Brasil, o único arquiteto Ministro da Habitação (nomeado, mas não tomou posse pelo afastamento político da Igreja Católica Progressista em relação a Jango). Juntamente com Paulo de Tarso, então ministro da Educação, representou o apoio dos católicos às Reformas de Base do Governo João Goulart. A renúncia de Paulo de Tarso foi depois de tumultuada ida ao Mackenzie para explicar as Reformas. Na dimensão cultural,  na década de 70 Guedes foi diretor pedagógico e professor da Escola de Arquitetura de Estrasburgo na França, presidindo vários juris de concursos de arquitetura em diversos países, sendo notável na Iugoslávia. Influenciou a geração de notáveis arquitetos franceses. 
Como representante da FRENTE ÚNICA liderada por Santiago Dantas, que da moda politica até virou modelo de vestido feminino, fui debater a posição dos católicos progressistas na casa da Curia Arquidiocesana na Av. Higienópolis com os arquitetos Milan, Guedes, Luis Carlos Costa, Moreira, Silvio Sawaya, Tadei, Marta Rosseti, Cônego Enzo e muitos outros. Primeiro ouvi que eles se consideravam a maioria do movimento reformista e socialista brasileiro e que, como tal, liderariam o processo. Não fariam alianças e nem comporiam a proposta FRENTE ÚNICA que eu participava como anarquista (a razão não tem dono). Assim eles não participariam em chapas únicas de composição heterogênea, como assim o fizeram nas sucessivas eleições ao Grêmio da FAU com Cesar Bergstron, UEE com José Serra e UNE José Serra. O que pude responder para a argumentação apresentada ,é que socialismo de grupo é grupismo e não socialismo. Só a união faz a força. Só a FRENTE ÚNICA poderia evitar a reação golpista da direita........ como aconteceu.
O afastamento da Igreja Católica Progressista de Jango, deslocou-o à esquerda para os sindicatos e comunistas, bem ao gosto da direita. A ideia da Assembléia dos Marinheiros foi a arapuca fatal, ali ele perdeu o apoio da quase totalidade dos comandos militares pelo desrespeito à hierarquia, como documenta o filme “Jango”, documentário feito pelos seus filhos Denise e João Vicente, notadamente no depoimento do Gen. Muricy. Episódio fatal foi a presença no litoral fluminense da IV Frota Americana em apoio a ameaça de dividir o país com a união Minas-Magalhães Pinto / Rio-Lacerda.
Os católicos conservadores realizaram a Marcha da Família com Deus pela Propriedade, simultaneamente em várias cidades do Brasil, bem organizadas, respaldando com povo o Golpe Militar.

Empresas de Planejamento
Era a época sucedânea ao desenvolvimento juscelinista. O grupo de Planejamento do governador Carvalho Pinto, “GP”, com o cooperativismo criou o Cinturão Verde em volta de São Paulo e o Ceasa, que até a esta década abastece Brasília e Belém do Pará. O metro quadrado no Cinturão Verde é comparável ao hectare no Pará. A Cooperativa Agrícola de Cotia foi a maior na história da humanidade, abastecendo cinco gêneros alimentícios fundamentais de Caracas a Buenos Aires. O GP era Plínio de Arruda Sampaio, Mario Laranjeira, Diogo Gaspar, arquitetos Domingos Azevedo e Joaquim Cardoso, convivendo com o industrial Fernando Gaspariam, etc.
Então nasceram os escritórios de planejamento: Asplan, pelo grupo do GP; pelo padre Lebret a SAGMACS Economia e Humanismo com os democratas cristãos Franco Montoro, Maria Adélia e os arquitetos da FAUUSP Chico Witacker, Clementina de Ambrosis, Moreira e Moreira e Luiz Carlos Costa. Depois surgiram a Hidroservice, do Eng. Henry Macksoud; Cetenco do Professor Celestino Rodrigues; a PROMON; a Montreal de Tomas Magalhães; Themag de Telêmaco Van Languendonck e Milton Vargas; Figueiredo Ferraz do José Carlos Figueiredo Ferraz ligado ao Nadir Curi Mezerani; o escritório da Camargo Corrêa e outros.
Além do Ministério da Habitação, o presidente Jango criou o Ministério da Reforma Agrária, presidido por João Pinheiro Neto, tendo escritório no Largo São Francisco no Rio de Janeiro e como chefe de gabinete o “Betinho”, criando a SUPRA – Superintendência da Política de Reforma Agrária na Rua Santo Amaro travessa da Rua do Catete no Rio de Janeiro – que entregou aos católicos progressistas, presidida pelo arquiteto Francisco Witacker Ferreira, com os arquitetos da SAGMACS, mais Luiz Oscar Funha de Toledo e os arquitetos da FAUUSP Roberto Yazigi, Glauco Giacobe e Oscar Arine.
A SUPRA introduziu o conceito francês de “solo criado”, onde as benfeitorias governamentais corresponderiam valor agregado às propriedades, as quais ressarciriam as benfeitorias recebidas. Assim as margens de novas rodovias financiariam parte da Reforma Agrária. O “solo criado” foi defendido na FAU pelos arquitetos Carlos Milan, Joaquim Guedes e Cláudio Gomes que exemplificavam a reurbanização de Londres por Patrick Abercombie, lembrando que na Inglaterra o solo pertence ao Governo e o imposto territorial é pelo direito de uso, semelhante ao aluguel, não tendo as dificuldades para desapropriação encontradas no Brasil.


Concreto Pré-moldado e Desenho Industrial
A Reforma Urbana começou com a constatação do déficit habitacional formando o mercado industrial, como foi a Europa Oriental após a Segunda Grande Guerra. Motivo da viagem de estudo do Prof. Paulo Sampaio Góes com o Arq. João Filgueiras Lima, Lelé, onde se empolgaram com a pré-fabricação e pré-moldagem em concreto armado. A Construtora Ribeiro Franco fez assim a Rodoviária de Brasília e o CRUSP – Conjunto Residencial da USP projeto do arquiteto Eduardo Kneese de Mello. O Eng. Sampaio Góes fez a primeira fábrica de pré-moldados CINASA com ex-alunos da FAU inovando com argila expandida, depois alguns deles foram para a SOBRAF de Paulo Lorena, nascendo também a PROTENDIT de Cerrutti e Augusto C. Vasconcellos, Munte com arquiteto Sérgio Amoroso e outras sucederam neste campo industrial. O colega Élvio Guatelli introduziu a produção de argila expandida na Cerâmica Mogi Guaçu, com ele estudei o aproveitamento da borra siderúrgica da Aliperti usada nos caixões perdidos da marquise do Jockey Clube de São Paulo.
Guedes com Villa Nova Artigas foram ver as soluções de onde não tínhamos notícias, na União Soviética e China, debatendo suas constatações com alunos da FAU, procurando uma solução brasileira com criatividade perante o desafio de fazer habitação em escala industrial, produzindo grande quantidade de habitação com qualidade, gerando emprego qualificado. Ao contrário do que mais tarde o BNH de Sandra Cavalcante fez várias Vila Kennedy, parecendo acampamentos militares, como retrata o filme "Central do Brasil" usando baixa tecnologia, empregando grande quantidade de mão-de-obra desqualificada vinda do campo num enorme artesanato de baixa qualidade. Jango objetivava quantidade com qualidade de habitações, o BNH objetivou emprego para mão-de-obra desqualificada. Isto foi na POLÍTICA uma dimensão CULTURAL.
O concreto protendido pode ser calculado graças à teoria de cálculo estrutural do estádio três dos professores Telemaco Van Lagendonck, Zucollo, Vasconcellos e Figueiredo Ferraz, e a execução pelo processo de bainha do Prof. Figueiredo Ferraz diferente do processo francês Freiscinette; eram referências básicas nas publicações especializadas em todos os países. Era uma Revolução Cultural na Arquitetura Brasileira recebendo a maior atenção dos críticos, editores, arquitetos e construtores do mundo.
A volumetria límpida de Oscar Niemeyer criando espaços públicos é a Sede da ONU e os principais edifícios de diversos países na Europa e na Africa. Brasília fez toda uma nação declamar arquitetura para o mundo. As colunas do Palácio da Alvorada eram o símbolo de união do povo na fé do futuro.
Os pórticos de Artigas, a estrutura da casa Cunha Lima do Guedes, as placas de concreto atirantando uma estrutura de cobertura metálica, era como um pórtico o ginásio do Paulistano de DeGenaro e Paulo Mendes da Rocha, que também fez o edifício Guaimbe, o MASP da Lina, o Clube Sírio do Pedro Paulo Saraiva com Sami Bussab, as casas do Milan e outros paulistas, projetavam com concreto armado aparente; o que foi batizado por Bruno Zevi de Arquitetura Brutalista.
Contrastando com a Arquitetura Brutalista havia o decorativismo dos condomínios residenciais com terraços cheios de jardineiras de J. Artacho Jurado: edifícios nos Viadutos, Av. Paulista, Rua Sabará, Av. Angélica e Bretagne na Av. Higienópolis. Boa parte deles tinham prazo apenas para fazer a última laje, inacabados viraram processos que celebrizaram o deputado Cid Franco.
Rino Levi, que no Teatro Cultura Artistica de São Paulo inventou as pastilhas de fachada, introduziu serpentinas de água na lajes de piso para climatização térmica e pátios residenciais cobertos por pergolados e telas criando um micro clima com beija-flores soltos nestes viveiros.
Onde projetavam elementos vazados ou brises de concreto como Niemeyer. Com o Brasil, no fim da decada de 50, produzindo aluminio nas fachadas apareceram os brises-soleils de alumínio que também passou a dominar as caixilharias não enferrujando.
No centro da cidade apareceram várias galerias ligando ruas e nelas galerias de arte, livrarias e pequenas lojas podendo em São Paulo evitar a parada do comércio nas chuvas e garoa entre a praça da Biblioteca Mário de Andrade e a Av. São João. 
Uma das maiores construtoras do IV Centenário de São Paulo construiu o Edifício Itália descobrindo mina d'água nas fundações e por multas contratuais foi a falência a Construtora Otto Meimberg.
Prédio na Rua Libero Badaró inclinou por mina d'água nas fundações e que então foi congelada, calculado o volume para retorná-lo a prumo e então feito o escoramento devido. Depois foi eliminado o congelamento, porque a água congelada ocupa maior volume do que a líquida. Lembrando que o exercito de Napoleão na fuga da Rússia jogava água dentro dos canhões, inutilizando-os.
As universidades orientavam e criavam cursos para pesquisa e desenvolvimento tecnológico.
Na Reforma de Ensino da FAU foi introduzida por Artigas, o Desenho Industrial, quando o curso com as matérias técnicas da Politécnica formava engenheiros arquitetos. A estes foi enriquecido a construtividade do detalhe do objeto e à profissão de Designers foram formados profissionais com fundamentos da técnica evitando o "estilismo". Um dos motivos pelos quais em 1964 o professor Lucas Nogueira Garces empregou os arquitetos Luiz Ismael Romio na Eternit e Julio Yamazaki na Ceramus Bahia. Antonio Célio Silva largou a FAU pela Walita, onde revolucionou inventando o Walita Mix. Ari Rocha venceu o Prêmio Lucio Meira, do Salão do Automóvel, lançando o carro Aruanda compacto que dominou o mercado mundial e foi trabalhar na Itália com Pinin Farina, fazendo sucesso no Salão do Automovel de Paris. 
Foi quando em 1963, na maior comparação entre faculdades de Arquitetura, na Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, a FAU USP recebeu o até agora único Hors Concours do Concurso, primeiro prêmio Universidade Waseda de Tóquio, segundo lugar Córdoba, Argentina, e terceiro Varsóvia, na Polônia. O projeto da FAU foi a hidroelétrica com eclusa, porto e ponte rodoferroviária no Rio Paranapanema, na corredeira de Sarã Grande de autoria de Antonio Sérgio Bergamin, Paulo Bruna e José Guilherme S. de Castro, orientados pelos professores Telemaco, Ferraz e Garcez com maquete testada no Laboratório de Hidráulica da Escola Politécnica. Como  diretor cultural do Grêmio e na época, fui contratado pela Emseque e estava estudando e sobrevoando o que veio a ser Itaipu, fui orientador e propositor deste projeto que fez parte do Plano Holandês para a CESP de Usinas Modulares com Eclusas. Ela ligaria a cidade de Paranavaí com Presidente Prudente, incluída no projeto rodoviário  DER - PR do engenheiro Benedito C. de Passos Paula e em mapas da Estrada de Ferro Sorocabana, ligando Presidente Prudente - Paranavaí - Guaíra.
A Sorocabana estabeleceu terminal de cargas em Paranavaí fazendo a ligação rodoviária, enquanto a ferrovia ia sendo construída em direção da barragem prevista quando, a então Rede Ferroviária Paraná - Santa Catarina, no governo Bento Munhoz da Rocha impediu a entrada da Sorocabana no Paraná decorrendo a mudança desse ramal para Pirapozinho no Pontal do Paranapanema sem grande futuro. Hoje, como ha muito na Rede Ferroviaria Federal isto não faz sentido. 

Rua Sabará 400
Guedes quando estudante fez parte da Pensão do Cotrim, República do Sabará 400, centro de convergência cultural ao qual fui convidado e ocupei a vaga quando ele se formou e casou com a arquiteta Maragliano. Foi onde Cauduro extasiado por ouvir Chão de Estrelas, ali pela Elizeth Cardoso, gritou: “Divina! Divina!” e assim ela foi nomeada. Onde após cantar fados e duetos com Tony Campelo, Helo, hoje Miucha, pediu-me para maneirar no trote do seu irmão Chico Buarque, que acabara de entrar na FAU. Faziam refeições e debatiam: Araci de Almeida, Caco Velho, Cacilda Becker e Walmor Chagas, Caetano Zamataro e Jorge Andrade, Booker e Eliana Pitman. Jorge da Cunha Lima lança seu livro de poesias e foi para seu irmão que Guedes projetou a casa que lhe deu o primeiro prêmio da Bienal.
Lá argumentavam Nietzsche e Telhard de Chardin, Aldoux Huxley e Marcel Camus por Raquel Vieira da Cunha e Beatriz Witaker Ferreira, Vitor Knoll e Wilcom Joia Perreira. 
Lá ensaiava no porão o grupo teatral com Jairo Arco e Flecha, Renato Borghi e Lucia Dultra, que com Sergio Brito ganharam o Prêmio Teatral Saci; e em nossa época de provas, para aliviar, Jorge acomodou-os na oficina da construtora Carvalhosa Cunha Lima, quando virou o grupo teatral Oficina, que mais tarde José Celso Martinez interpretou como Oficina teatral e não como na origem teatro da Oficina do Jorge. 
Teatro eu sempre debati lá com os moradores, depois diretor premiado, Celso Paulini e o ator Sergio Mamberti. Da Sabará, Geraldo Vandré foi algumas vezes comigo na FAU, onde gostava dos livros com pinturas de Hieronymus Bosh e quando guardou minha frase: “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”, pontuando-a na conhecida música.
Os moradores tinham bagagem cultural, como o Mariano Carneiro da Cunha que depois foi lecionar cultura hebraica na Universidade de Paris e leva seu nome o museu da USP de cultura afroreligiosa. Mauricio Capovilla ficou prestigiado cineasta fundando a Cinemateca. Mario Yoshinaga com Jean Claude Bernadet, realizou no MASP e cinemas da Liberdade um festival com memoráveis debates após as projeções, lançando a moda cultural do cinema japonês. Celso Paulini ficou diretor teatral premiado. Cid ficou sendo frei Jorge dominicano, que durante 7 anos acompanhou-nos na FAU, no Rio foi patrão da cozinheira Benedita, que virou governadora e ministra. Abrahão Sanovics e Antonio Augusto Antunes foram professores da FAU, onde venci por unanimidade os renomados Gui Bonsiepe (diretor da Bauhaus em Ulm, Alemanha) e Silvio Greif (designer da IBM), no até agora único, lá, concurso internacional para professor. Mas, o então diretor arquiteto Lucio Grinover postergou minha contratação até o vencimento do prazo... Agradeço os apoios da quase totalidade dos professores da época.
Quase todo mês eu ganhava do Walter Pereira de Queiroz, como tio amigo, um barril de chopp, uma caixa de caçulinha e outra de sodinha, na Sabará 400 acrescentavam pipoca e comemorávamos os aniversários. Contemplados todos, fizemos o do João, o gato, e depois o da casa com os Paraplégicos do Ritmo e Escola de Samba do Maia, tomando o quintal e uma página do Jornal Última Hora onde Jorge da Cunha Lima tinha coluna "Pauliceia Desvairada".

João Sebastião Bar
Cotrim se animou com nossas festas da Sabará 400, e com projeto do Guedes fez o João Sebastião Bar, na Major Sertório quase na Dona Veridiana. Foi o berço da Bossa Nova em São Paulo. Às segundas-feiras, Gilberto Tinetti tocava Bach em cravo, às quartas tinha coral mudando toda semana, como o da PUC, Ars Viva, Madrigal Renascentista de Ouro Preto, Ars Sacra, a permanente cantora Claudete Soares, Zimbo Trio, Jograis da São Francisco, poetas... Foi o mais valorizado bar do país. Apenas ajudei Antonio Augusto no mobiliário, mas foi quando vi Guedes mais empolgado e realizado, ele participava do sucesso... Quando o inteligente amigo José Serber levou-me em Greenwich Village, NY, a um debate show sobre Bossa Nova, o lugar mais citado foi o João Sebastião Bar.
Em Janeiro de 1964, com o ônibus da FAU fomos em doze alunos, o professor Albertinho, o motorista Benjamim, bedel Licineo e três convidadas do Albertinho. O ônibus bateu na perua do genro do governador da Bahia e teve judicialmente decretada a "prisão do ônibus". Em Jequié, Chico cantava no palanque de uma quermesse e no intervalo eu apresentava saudação as lindas garotas que contrastavam com a decisão injusta do juiz. Depois de resolvermos là, numa boa,  com o governador Lomanto Junior, o diretor da polícia encarregado a acompanhar-nos na volta até Jequié onde o juiz decretou a prisão,  combinou conosco e pregamos um susto no Benjamim deixando-o preso na cela da delegacia e que nós quando chegássemos à São Paulo recorreríamos aos meios competentes. Quanto ao juiz, Lomanto nos falou: "Ou ele remove a sentença ou o removo pro Sertão".
Dessa mesma viagem Albertinho sumiu com sua namorada e nossa verba de excursão, deixando as duas convidadas por nossa conta. Fazíamos refeição no restaurante universitário, dormíamos num colégio em férias e jantávamos de graça no Clock, restaurante panorâmico sobre a baía, graças ao seguinte episódio:
-Estávamos sentados junto a uma mesa Mané, Dente, Moacir, Chico e eu, quando Mané falou pro dono da casa que era empresário e estava acompanhado do conjunto de bossa nova Sambafo. O proprietário mandou apagar as luzes ascendendo a do palco e dizendo: "Salvador está de parabéns, diretamente do João Sebastião Bar para o Clock apresentamos o Sambafo", mal sabia ele que ali estava Chico Buarque. 

       As Reformas e o Desenvolvimento
No país se debatia as Reformas de Base; na FAU a Reforma Urbana, que após o seminário organizado pelos então alunos Wilson Edson Jorge, Paulo Bruna e outros, suas proposições, após 40 anos, no Governo FHC, viraram na íntegra o Estatuto da Cidade. Ainda que tardia, a produção dos alunos da FAU foi reconhecida.
A Reforma Educacional, evoluiu criando a estrutura universitária de institutos, posteriormente encolhida nas pesquisas pelo acordo MEC-USAID. Esta freiada no ensino universitário brasileiro contrastou com os investimentos e pesquisas desenvolvidos pelos que se tornaram “tigres asiáticos”: Coréia do Sul, Taiwan, China e Japão. Foi o nosso maior freio ao desenvolvimento. As reformas de base: Reforma Urbana, Agrária, Bancária, Administrativa, Tributária e Educacional, foram debatidas semelhantemente e ao mesmo tempo, entre os “tigres asiáticos” e o Brasil, lá foram feitas, aqui postergadas pela Revolução Militar.