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quarta-feira, 4 de abril de 2012

Entrevista no Site Cauê - 2005



Vicente Bicudo é arquiteto formado pela FAU-USP, em 1964 e pós-graduado em Engenharia de Sistemas de Transportes pela FEI. Atualmente, é membro da comissão de regulamentação de veículos para transporte de escolares da ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas e AEA – Associação de Engenharia Automotiva, além de membro da congregação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da universidade de São Paulo – FAU-USP, onde foi eleito como titular representante dos ex-alunos pela sexta gestão consecutiva. É membro, ainda, do conselho do Instituto Afro-Brasileiro de Ensino Superior. Traz em seu currículo longa experiência nas áreas de teoria dos materiais e projeto estrutural, sendo responsável por diversos materiais e produtos desenvolvidos pioneiramente no Brasil, além de extensa e ativa atividade acadêmica nas universidades FAU-USP e Mackenzie e do recebimento de diversos prêmios de arquitetura e design nacionais e internacionais, entre eles o primeiro prêmio no concurso para a catedral de Loanda, no Paraná.

Apesar de ter sua trajetória profissional estreitamente ligada à indústria no desenvolvimento de produtos e pesquisas tecnológicas, Vicente Bicudo exerceu ativamente a prática do projeto e construção da arquitetura, paralelamente e por amor à profissão. Nas palavras do mesmo: “fui responsável, durante 31 anos, pelo desenvolvimento industrial da companhia Teppermam, onde criei e acompanhei inúmeros projetos como os metrôs de Los Angeles, São Francisco e Washington e os bancos e espaços para a tripulação das naves Shuttle para a NASA. Em minha atuação na arquitetura sempre estiveram presentes as tecnologias, conceitos e materiais da indústria, pois acredito que toda construção comporta uma pesquisa tecnológica e estou constantemente preocupado com a estrutura, o desenvolvimento técnico e as especificações e particularidades de cada projeto”.

Data de 1979 a casa feita por ele com Jatocret, tecnologia de ponta, cujo formato lembra um capacete, contou com a colaboração de seus então parceiros Miriam e Vitor Ayroza. A estrutura é uma casca de concreto apoiada sobre pórticos helicoidais que não apresenta trincas até hoje, apesar de não ter juntas de dilatação. Além disso, a casa tem perfeito isolamento acústico, conseguido com barragens acústicas de concreto, tecnologia que aprendeu no trabalho com barragens do aeroporto de Los Angeles.

 No projeto ganhador de concurso nacional para a Catedral de Loanda, que ganhou quando ainda recém-formado, e construiu entre 1964 e 1965, o diferencial apresentado foi a concepção estrutural arrojada e diferente. Por motivos de racionalização e buscando uma solução técnica viável, optou por uma estrutura composta de tijolos e madeira, que permitiu que o que seria gasto apenas com os alicerces de uma obra convencional pagasse toda a construção.

O formato dos cilindros que compõem o prédio remete à forma de um chapéu de bispo, sendo que o conjunto formado por eles lembra um órgão de igreja, dotando, assim, o templo de um simbolismo significativo.

No projeto e construção do Centro Diocesano da Igreja Episcopal Anglicana, no bairro do Paraíso, em São Paulo, aplicou técnicas da indústria automobilística. A estrutura metálica é formada por chapas cortadas a lazer e tubos cortados em fresa, que lhe permitiu vãos de 10 m e muita precisão na montagem. Toda a estrutura foi pré-fabricada e montada no local. O isolamento termo-acústico do conjunto foi pensado e executado como o dos automóveis. O mezanino é formado por uma laje de concreto engastada na estrutura de cobertura, de tubos metálicos e fechamento em policarbonato, onde elementos basculantes podem ser abertos através de cabos de aço. Nesse mezanino estão localizados dois apartamentos e um salão de múltiplo uso.

Localizada na rua Borges Lagoa, no fundo de um lote onde existe um prédio, a disposição dos espaços permite que desde o altar possamos ter ótima visão de quem entra. Devido às formas curvilíneas exigidas pelo programa funcional que não poderiam ser modeladas com materiais duros, optou-se pelo piso de granilite branco, que foi doado pela Cauê.

A iluminação do conjunto é feita de maneira indireta através dos tubos estruturais, sendo que o altar recebe tratamento especial com iluminação direta e foi desenhado pelo próprio arquiteto.
Em sua extensa trajetória profissional, Vicente Bicudo atuou no desenho de móveis, sofás, bancos, luminárias, criando mecanismo giratório para poltronas e poltronas reclináveis para veículos leitos. Em seu escritório tem os desenhos originais para os bancos do Boeing, sendo que desenhou a primeira mesinha reclinável para aviões do Brasil e possui a patente do mecanismo de apoio de pés para poltronas de avião, que são utilizados hoje.

Aplicou alguns de seus conceitos na residência onde mora, uma casa com cobertura em formato parabolóide hiperbólico com vidros à prova de som e algumas esquadrias de aço feitas para submarinos.

Entre os materiais pioneiramente desenvolvidos no Brasil, estão a fibra de coco vulcanizada para bancos, o fiberglass ignífugo para metrôs, entre outros.