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segunda-feira, 30 de julho de 2012

Os Materiais em Interiores de Veículos Rodoviários

Vicente de P. B. Bicudo

Palestra no Congresso Anual da AEA – Associação de Engenharia Automotiva do Brasil - 1989, no Instituto de Engenharia de São Paulo.

A competitividade aperfeiçoa os projetos visando praticidade, economia, conforto e segurança. Mas a evolução tecnológica possibilita o atendimento da legislação sobre segurança progressivamente mais exigente; hoje sobre flamabilidade dos materiais, amanhã sobre emanação de fumaça tóxica e absorção de choques por materiais não rígidos.

Com o objetivo de aprender o futuro é que a Teperman concorreu e executou os bancos de Aerotrain da Rohr Aerospace para o governo dos Estados Unidos em 1972, e posteriormente os bancos dos metrôs de San Francisco e Washington sendo até hoje o único fornecedor. A exportação foi uma escola na qual trabalhamos na especificação dos interiores das naves Shuttle para a NASA. Assim vimos aparecer o termo "transporte de massa" até a criação de secretarias estaduais específicas.

As especificações que inicialmente exigiam resistência estrutural, absorção de choques e propagação lenta da chama eram aeronáuticas.

Como os veículos têm ar condicionado ficam herméticamente fechados. Um incêndio em um carro com passageiros foi letal pela fumaça tóxica e a legislação mudou exigindo a não propagação da chama (ASTM E 162-76) e baixa emanação de fumaça por índice ótico de obscurecimento, é a norma ASTM E 662.

Evidentemente que esta norma hoje adotada nos Estados Unidos nada tem a ver com o poder tóxico da fumaça, só com a sua densidade, mas sinaliza claramente a direção a seguir o futuro dos materiais de interiores para veículos rodoviários.

Na definição do material influem três critérios:

1 – MARKETING resolvido no Design
         1.1 – CUSTO de matéria prima, ferramentas, processo produtivo, mão de obra, máquinas, instalações industriais e capital de giro.
       1.2 – SEGURANÇA atendendo normas e legislação prevendo absorção de choques, flamabilidade, evitar farpas ou cantos cortantes, performance sem vibração, etc.
            1.3 – MANUTENÇÃO com teste de durabilidade, facilidade de limpeza, etc.
 1.4 – CONFORTO no espaço dimensional, visual evitando reflexos e ofuscamento, acústico, tátil e ergonômico.

2 – PROPRIEDADES FÍSICAS dos materiais resolvidos no Design
     2.1 – DURABILIDADE ao calor, luz solar, umidade, gordura, poeira, flamabilidade, limpeza, desgastes, etc.
             2.2 – CONFORTO térmico, visual, acústico e vibrações.

3 – PRODUÇÃO
             3.1 – CUSTO
       3.2 – FACILIDADES: disponibilidade da matéria-prima com transporte e armazenagem, acesso à tecnologia, treinamento, recursos humanos, equipamento e instalações necessárias e capital de giro.
           3.3 – RACIONALIZAÇÃO: a substituição dos modelados por moldados substitui a habilidade do tapeceiro especializado com resultado não garantido pelo montador com a peça de qualidade garantida, gerando um mercado de peças de reposição.

Modelados
Moldados
M.O. Especializada
Treinada
M.O. Intensiva
Automação
Tapeceiro
Montador


         TENDÊNCIAS

As normas, legislação e tecnologia mudaram os materiais nas décadas de 70 e 80 como tendem na de 90.

Assim é que o couro com aperfeiçoamento dos curtumes não mais racha por ressecamento ou desbota ao sol; deixou de ser luxo para ser conforto no clima tropical, permitindo transpiração nas costas e assento com facilidade de limpeza. É trabalhoso o controle de ácaros em tecido sobre espuma de poliuretano, e quando aos sentar o passageiro sofre um sopro de poeira. Na Europa e nos Estados Unidos a quase totalidade dos ônibus rodoviários são para distâncias de no máximo duas horas, aqui são acima de 400 quilômetros em 5 horas. Por isso, os bancos de passageiros que a Teperman fabrica para os ônibus de Viação Cometa são totalmente revestidos em couro.

Na década de 80 o povo sensibilizou-se pela contaminação hospitalar, ao que segue a AIDS, tendo já no mercado produtos para esterilizar o ar evitando os ácaros e consequentemente as alergias. Isto influencia o passageiro na motivação dos carpetes do piso e os tecidos das cortinas e bancos. Frestas e nichos de poeira têm possibilidades de afetar a decisão de compra; no metrô de Washington, WMATA, evitá-los foi critério prioritário no projeto dos interiores Nos hotéis cinco estrelas recentemente aumentaram os serviços de lavagem de carpetes que sempre existiram, conforme foi divulgado na feira Equipotel deste ano. Um aspirador não remove a poeira do Norte do Paraná de um carro.

O fiberglass conforme a quantidade necessária tem um processo adequado. Executado por hand lay up ou spray up para pouca produção de custo alto, produzido em grandes quantidades em RTM aumenta a produtividade a custo inferior e produzido em SMC melhora a resistência, acabamento, padronização e sua aplicação. Esta versatilidade satisfaz inúmeras peças como vemos nos últimos ônibus Mercedes Benz. O fiberglass está na tendência da década porque também pode atender a especificação de limites rigorosos nos testes ASTM E 162-76 com baixa propagação de chama e ASTM E 662 com baixa emanação de fumaça.

Para o veículo ser econômico, o peso próprio é o principal fator. No interior do veículo a estrutura e molejo dos bancos são significativos, principalmente nos ônibus. Por isso, as estruturas dos bancos tendem a encarecer com alumínio e plástico reforçado. Na Europa existem autos com encostos em estrutura de plástico injetado, depende da quantidade a adequação do processo e matéria prima, podendo ser de duretano a polipropileno injetado com fibra de vidro.

Como acontece com aparelhos de som e televisores, a tendência dos interiores de autos continuará a ser o preto fosco.

As diversas peças têm diversas fixações, dificultando a manutenção. Na eletrônica, a fixação geralmente acompanha a peça.

Nas peças estofadas o hinterschaun liga permanentemente a capa à espuma, distribuindo os esforços, evitando que a capa dilate na área maior solicitação provocando o "ensacamento". Este processo evita que um rasgo na capa se propague. Isto nos leva a crer na sua maior utilização nos ônibus e caminhões.


TENDÊNCIA DOS MATERIAIS





PARTE
DÉCADA
70
80
90
BANCOS
ESTRUTURA
aço tubular
aço estampado
aço estampado
alumínio
plástico reforçado
MOLEJO
mata de poliuretano (contacto)
fibra de coco vulcanizada
molas de aço
espuma de poliuretano moldada
espuma moldada não propagante da chama
fumaça tóxica
CAPAS
vinil
tecido sintético
couro
tecido
lã hinterschaun
PISO
CARPETE
manta de juta emborrachada
carpete de fibra sintética
caminhões: borracha
ônibus: plástico
soluções mais adequadas à limpeza e substituição
PAREDES
COLUNAS,
REVEST. DE
PORTAS E
PAINEL
modelados em tapeçaria com vinil preto ou bege claro
painéis termo moldados
ônibus: chapas melamínicas
painéis moldados
não propaga a chama
fumaça tóxica
BAGAGEIROS
P/ ÔNIBUS
tubulares com tapeçaria
painéis moldados PVC ou ABS
plásticos reforçados
QUEBRA-SOL
P/ CAMINHÕES
tapeçaria com armação de arame
moldados c/ armação plástica
vidro degradê
hinterschaun duplo articulado
vidro degradê