Vicente de P. B. Bicudo
Palestra no Congresso Anual
da AEA – Associação de Engenharia Automotiva do Brasil - 1989, no Instituto de Engenharia de São Paulo.
A competitividade aperfeiçoa os projetos visando
praticidade, economia, conforto e segurança. Mas a evolução tecnológica
possibilita o atendimento da legislação sobre segurança progressivamente mais
exigente; hoje sobre flamabilidade dos materiais, amanhã sobre emanação de
fumaça tóxica e absorção de choques por materiais não rígidos.
Com o objetivo de aprender o futuro é que a Teperman
concorreu e executou os bancos de Aerotrain da Rohr Aerospace para o governo
dos Estados Unidos em 1972, e posteriormente os bancos dos metrôs de San
Francisco e Washington sendo até hoje o único fornecedor. A exportação foi uma
escola na qual trabalhamos na especificação dos interiores das naves Shuttle
para a NASA. Assim vimos aparecer o termo "transporte de massa" até a
criação de secretarias estaduais específicas.
As especificações que inicialmente exigiam resistência
estrutural, absorção de choques e propagação lenta da chama eram aeronáuticas.
Como os veículos têm ar condicionado ficam
herméticamente fechados. Um incêndio em um carro com passageiros foi letal pela
fumaça tóxica e a legislação mudou exigindo a não propagação da chama (ASTM E
162-76) e baixa emanação de fumaça por índice ótico de obscurecimento, é a
norma ASTM E 662.
Evidentemente que esta norma hoje adotada nos Estados
Unidos nada tem a ver com o poder tóxico da fumaça, só com a sua densidade, mas
sinaliza claramente a direção a seguir o futuro dos materiais de interiores
para veículos rodoviários.
Na definição do material influem três critérios:
1 – MARKETING resolvido no Design
1.1 –
CUSTO de matéria prima, ferramentas, processo produtivo, mão de obra, máquinas,
instalações industriais e capital de giro.
1.2 –
SEGURANÇA atendendo normas e legislação prevendo absorção de choques,
flamabilidade, evitar farpas ou cantos cortantes, performance sem vibração,
etc.
1.3 –
MANUTENÇÃO com teste de durabilidade, facilidade de limpeza, etc.
1.4 – CONFORTO no espaço dimensional,
visual evitando reflexos e ofuscamento, acústico, tátil e ergonômico.
2 – PROPRIEDADES FÍSICAS dos materiais resolvidos no
Design
2.1 –
DURABILIDADE ao calor, luz solar, umidade, gordura, poeira, flamabilidade,
limpeza, desgastes, etc.
2.2 –
CONFORTO térmico, visual, acústico e vibrações.
3 – PRODUÇÃO
3.1 –
CUSTO
3.2 –
FACILIDADES: disponibilidade da matéria-prima com transporte e armazenagem,
acesso à tecnologia, treinamento, recursos humanos, equipamento e instalações
necessárias e capital de giro.
3.3 –
RACIONALIZAÇÃO: a substituição dos modelados por moldados substitui a
habilidade do tapeceiro especializado com resultado não garantido pelo montador
com a peça de qualidade garantida, gerando um mercado de peças de reposição.
Modelados
|
Moldados
|
M.O.
Especializada
|
Treinada
|
M.O.
Intensiva
|
Automação
|
Tapeceiro
|
Montador
|
TENDÊNCIAS
As normas, legislação e tecnologia mudaram os
materiais nas décadas de 70 e 80 como tendem na de 90.
Assim é que o couro com aperfeiçoamento dos curtumes
não mais racha por ressecamento ou desbota ao sol; deixou de ser luxo para ser
conforto no clima tropical, permitindo transpiração nas costas e assento com
facilidade de limpeza. É trabalhoso o controle de ácaros em tecido sobre espuma
de poliuretano, e quando aos sentar o passageiro sofre um sopro de poeira. Na
Europa e nos Estados Unidos a quase totalidade dos ônibus rodoviários são para
distâncias de no máximo duas horas, aqui são acima de 400 quilômetros em
5 horas. Por isso, os bancos de passageiros que a Teperman fabrica para os
ônibus de Viação Cometa são totalmente revestidos em couro.
Na década de 80 o povo sensibilizou-se pela
contaminação hospitalar, ao que segue a AIDS, tendo já no mercado produtos para
esterilizar o ar evitando os ácaros e consequentemente as alergias. Isto
influencia o passageiro na motivação dos carpetes do piso e os tecidos das
cortinas e bancos. Frestas e nichos de poeira têm possibilidades de afetar a decisão
de compra; no metrô de Washington, WMATA, evitá-los foi critério prioritário no
projeto dos interiores Nos hotéis cinco estrelas recentemente aumentaram os
serviços de lavagem de carpetes que sempre existiram, conforme foi divulgado na
feira Equipotel deste ano. Um aspirador não remove a poeira do Norte do Paraná
de um carro.
O fiberglass conforme a quantidade necessária tem um
processo adequado. Executado por hand lay up ou spray up para pouca produção de
custo alto, produzido em grandes quantidades em RTM aumenta a produtividade a
custo inferior e produzido em SMC melhora a resistência, acabamento,
padronização e sua aplicação. Esta versatilidade satisfaz inúmeras peças como
vemos nos últimos ônibus Mercedes Benz. O fiberglass está na tendência da
década porque também pode atender a especificação de limites rigorosos nos
testes ASTM E 162-76 com baixa propagação de chama e ASTM E 662 com baixa
emanação de fumaça.
Para o veículo ser econômico, o peso próprio é o
principal fator. No interior do veículo a estrutura e molejo dos bancos são
significativos, principalmente nos ônibus. Por isso, as estruturas dos bancos
tendem a encarecer com alumínio e plástico reforçado. Na Europa existem autos
com encostos em estrutura de plástico injetado, depende da quantidade a
adequação do processo e matéria prima, podendo ser de duretano a polipropileno
injetado com fibra de vidro.
Como acontece com aparelhos de som e televisores, a
tendência dos interiores de autos continuará a ser o preto fosco.
As diversas peças têm diversas fixações, dificultando
a manutenção. Na eletrônica, a fixação geralmente acompanha a peça.
Nas peças estofadas o hinterschaun liga
permanentemente a capa à espuma, distribuindo os esforços, evitando que a capa
dilate na área maior solicitação provocando o "ensacamento". Este
processo evita que um rasgo na capa se propague. Isto nos leva a crer na sua
maior utilização nos ônibus e caminhões.
TENDÊNCIA
DOS MATERIAIS
|
||||
PARTE
|
DÉCADA
|
70
|
80
|
90
|
BANCOS
|
ESTRUTURA
|
aço tubular
|
aço estampado
|
aço estampado
alumínio plástico reforçado |
MOLEJO
|
mata de poliuretano (contacto)
fibra de coco vulcanizada molas de aço |
espuma de poliuretano moldada
|
espuma moldada não propagante da chama
fumaça tóxica |
|
CAPAS
|
vinil
|
tecido sintético
|
couro
tecido lã hinterschaun |
|
PISO
|
CARPETE
|
manta de juta emborrachada
|
carpete de fibra sintética
caminhões: borracha ônibus: plástico |
soluções mais adequadas à limpeza e substituição
|
PAREDES
|
COLUNAS,
REVEST. DE PORTAS E PAINEL |
modelados em tapeçaria com vinil preto ou bege claro
|
painéis termo moldados
ônibus: chapas melamínicas |
painéis moldados
não propaga a chama fumaça tóxica |
BAGAGEIROS
|
P/ ÔNIBUS
|
tubulares com tapeçaria
|
painéis moldados PVC ou ABS
|
plásticos reforçados
|
QUEBRA-SOL
|
P/ CAMINHÕES
|
tapeçaria com armação de arame
|
moldados c/ armação plástica
vidro degradê |
hinterschaun duplo articulado
vidro degradê |